12/15/2015

Tigra Maria: no teu tempo, maior que o meu, a gente vai ficar guardado pra sempre

"eu te amo, sussurra a voz até o último segundo...' Ali, deitada sobre o tapete/ não quis água nem comida/ o único movimento que fez foi levantar a cabeça e me olhar diretamente/ com seus imensos olhões verdes de um amarelo caramelo/ cada detalhe daquela conhecida e delicada renda viva/ brilhando em minha direção. 8888 não vou esquecer o calor daquele olhar/ como que se despedindo/ e tão cheio de vida ainda, naquele dia, a despeito do magro corpinho tigrado. Em você, a quanto tempo não vejo sobressaltos?/ nessas últimas manhãs acordei te ouvindo e me olhando em pensamentos/ 17x7: 119. no teu tempo, maior que o meu, a gente vai ficar guardado pra sempre/ porque o silêncio nunca vem sozinho, traz com ele a saudade/ e deixa dois olhões de bulica/ focinho com focinho/ iluminando a noite dessa saudade nova que chegou. ****** São muitos momentos registrados em fotos. Muitos mesmo. Tem a Tigra desde pequeninha. sei que na caixa com as fotos em papel tem outras fotos mais, dela com o Dogui, inclusive. A Tigra Maria é filha da Manuela, a Manu. Nossa gatinha preta, pequenina, que veio lá da casa da minha mãe. Ela ficou prenha e no final parecia uma bola, literalmente, deitada no chão da casa das jabuticabas, ela rolava para os lados sem conseguir levantar. A gente ria e até zoava com ela...dizia que ela parecia uma jabuticaba.. rsrs. Um dia, ela teimou e só queria ficar no quarto, mais especificamente dentro do guarda-roupa. Quando me dei conta os gatinhos estavam nascendo. Foram sete ao todo. Não consegui dormir, conversei muito com ela que tava agitada e até 'ajudei' os últimos a nascerem. Não sei se a Tigra estava entre estes. Mas, lembro claramente dela, minúscula, de olhinhos fechados ainda e já chiando, fizzsssst, quando a gente se aproximava, rindo da valentia da pequena. Lembro como se fosse agora do instante em que 'apresentei' o Dogui para ninhada. "É uma tigrinha, mesmo. olha que brava". Não estava previsto que ela ficaria com a gente. Era para doar, afinal oito gatos não dá! Mas, ela foi ficando. Os outros foram encontrando seus donos e suas casas e ela foi ficando.... assim, sem planejamento - nosso, pelo menos!!! E ficou por 17 anos, desde aquele 13/11/98. Até hoje por volta das 14h. Foi então que, depois de ficar uma hora deitadinha no meu colo, seu corpo tremeu ao ser colocada de volta na mesa do médico, e os olhos arregalaram de um jeito que não como bulicas bordadas gigantes... 'eu amo você, agora a gente vai pra casa, não vamos deixar você aqui, fique tranquila...' eu não parava de sussurrar pra ela. eu sabia,a gente sabia, porque embora eu escreva em primeira pessoa sei que essa dor é compartilhada. Sabíamos que tínhamos que voltar lá rápido. não fazia sentido algum, nem pra ela nem pra nós, prolongar. Ao menos pra ela agora acabou o sofrimento. Pra nós, mesmo com essa dor horrível, essa vontade de chorar a cada movimento dentro dessa casa; a cada pensamento de que hoje ela não vai chegar resmungando preu dar comida ou pra subir em cima de mim...ficam fotos lindas. Registros do mais incondicional dos amores do mundo, alimento para uma saudade que não vai acabar nunca, eu sei. Agora, tá doendo demais, demais. Não tem outros jeito a não ser viver essa dor, colocar mais essa saudade nas costas e no coração e deixar que o tempo nos ajude, outra vez, a brincar de verdade com a Moly, com a Chanel e, claro, com a Baby, que agora passa a ocupar o posto de 'mais velha da casa'.

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