8/15/2014

Meu paizão

Há um ano uma pessoa descansou da vida, um gatinha partiu em silêncio e duas novas saudades entraram para os meus dias.
É verdade que a uma delas eu já estava até acostumada, pois aprendi bem nova o peso das despedidas de pessoas amadas.  No dia 15 de agosto de 2013 meu pai morreu. Ele descansou, pois  não estava gostando da vida do jeito que estava. Acho mesmo que ele desistiu, mas não sei se adiantaria ele não ter desistido, depois do histórico de descuidos consigo próprio que construiu.  Alcoólatra, cardíaco e diabético, e em depressão, ele foi embora, mas só depois de ver as duas pessoas que faltava ele ver. A última pessoa da família que viu foi minha irmã, com quem estava numa relação turbulenta. Já tinha visto minha mãe, de quem se separara mas a quem continuava amando, do jeito dele, meio torto, mas com devoção!  Eu e meu irmão estávamos lá todos os dias, mas era evidente que a ausência dessas duas mulheres da vida dele era o que ficava.
Morei muito pouco tempo com meus pais. Com ele, Roinildo Alves Vieira, foi uma relação ainda mais diferente, mas uma das coisas que mais me encantavam no meu pai quando estava comigo era seu jeito devotado a esta família e, especialmente, a minha mãe, a polaca de olhos verdes que o encantou quando ainda eram adolescentes!
Continuo achando, a despeito de tudo, e de todas as falhas, e de todos os erros cometidos por ele, que era um dos caras mais sensíveis que já conheci. Era meio chucro, é verdade, tinha um jeito ríspido de falar, parecia meio grosso, às vezes, mas a verdade é que o que fez de melhor na vida dele foi ser pai. Foi construir essa família diferente – e tão igual a todas as outras - da qual faço parte. Nunca fui de me preocupar com dia dos pais e este tipo de data que considero meramente mercadológica. Nunca fui de visitar nestes dias, não gosto disso, me soava profundamente falso. No máximo, com o passar do tempo, eu ligava.
Mas eis que, desde domingo passado, já tenho pensado muito nele. As lembranças voltam, de todas as épocas.  Dele acordando muito cedo para fazer vitamina para esta adolescente quando veio morar com eles em Curitiba; não esqueço dos passeios de carro: ele curtia essa coisa de pegar o carro e sair passear, ir pro meio do mato só ver a paisagem, fazer um churrasquinho na  Serra da Graciosa – ninguém de nós esquece uma vez com guarda-chuva, minha irmã neném, e a gente lá fazendo churrasco na floresta.
Também era sempre ele que corria atrás para resolver os problemas da família toda que o adotou e que ele adotou também  – a Perin. Também não posso esquecer das bebedeiras assustadoras...primeiro me irritei, não admitia.... com o tempo, fui vendo a fragilidade de toda uma vida aparecendo ali!

Tampouco posso esquecer o instante em que ele percebeu que eu estava apaixonada de verdade por um carinha aí, numa noite em que voltei para casa sozinha, embriagada de vinho para tentar esquecer que ele tinha ido embora pra outra cidade. Talvez tenha sido ali, sentada no chão chorando e muito surpresa com a sensibilidade dele, que percebi  um dos grandes valores do  Paizão. Também pode ter sido ali que minha relação com ele começou a mudar.   Eu tinha uns  22, 23 anos e percebi que o meu pai era valioso por várias razões.

Creio que alguma porta se abriu porque depois daquilo algumas vezes ele abriu seu coração apaixonado comigo de um jeito tão dolorido, tão intenso que eu nunca mais esqueci. Que meu pai foi um romântico completamente a-pai-xo-na-do pela minha mãe e que o que lhe interessava era a família.  Mesmo depois de separados há algum tempo,  ele abria o coração de um jeito tão desconcertante, em conversas que inevitavelmente lhe traziam lágrimas aos olhos.

Eu juro que nunca acreditei que sentiria tanto essa perda! Por não ter morado com eles, por notar que nossa relação familiar sempre fora diferente; porque em alguns momentos o achei fraco... e olha eu aqui, agora! Há dias pensando no que escreveria, em quais palavras apareceriam, hoje...

Ele se foi há um ano e levou com ele a minha gatinha Lu,  xará da minha mãe, vejam só!  Foi só isso que pensei quando soube, logo depois do enterro dele, que a gatinha que tinha ido pro veterinário tinha morrido, assim, do nada!!!! “Puxa, paizão, vc levou a minha gatinha com você!”.


Hoje acordei pensando nele! Não o sinto por perto. Mas sinto! Na verdade, não sei o que sinto! Mas, se penso tanto nisso, sinto alguma coisa que mexe profundamente comigo. Uma tristeza e uma saudade diferentes.  Faltou tempo, faltou fazer mais alguma coisa? Não sei, talvez sim, talvez não! Mas sei que guardo pelo meu pai um carinho que parece aumentar. Tentei mais que tudo não julga-lo! Tentei mais que tudo que a família pudesse guardar o lindos momentos que ele lhes deu - muito mais do que mim, sempre achei. Não sei se sinto falta, afinal acostumei a não estar com ele todo dia desde sempre. É, acho que ainda tenho muito por descobrir sobre esse cara.

Um comentário:

Anônimo disse...

Roinildo Alves Vieira... Grande pessoa! Talvez uma das melhores que tenha conhecido em minha vida até o presente momento. Talvez! Saudades!