5/26/2015

Algumas canções tem o poder de me transportar para mim mesma. A guria perdida no tempo e a que segue por perto, mas precisa de uns chacoalhões, de vez enquando. Não me peça pra explicar como ou o porquê . Não saberia dizer, na maioria dos casos. Em outros, lembro, sinto tudo de novo, tudo o que ela provocou, tudo que ela remexeu, tudo que ela me fez chorar e rir. Me vejo nas entrelinhas, e até no que não foi cantado. Acrescento a elas o que sou, também!

 E quando ergo o volume pra ouvir, outra vez, aquela canção que se tornou um pouco de mim, pois carrega alguns pedaços meus, me sinto renascer, me sinto revivendo. Me sinto viva de um jeito  estonteante, hipnótico que me suga as forças e obriga a parar e sentar um pouco. Tantas vezes me empurram, essas canções, para uma caneta e um pedaço de papel, me acordam no meio da noite ou mantém meus olhos abertos .

Algumas delas me fazem lembrar de mim, do que passou rápido demais, dos meus pedaços deixados pelos cantos, por vontade, ou por não me dar conta. ou pela pressa! Me reencontro e me perco nas palavras cantadas e me deixo embalar, enlevada pela conversa que me faz voar alto e acreditar que não foi em vão se entregar desse jeito. Tenho vontade de abraçar de novo, ao primeiro sinal do piano e do cielo; e viver, não o mesmo outra vez, mas o que está por vir com a mesma intensidade, apesar do tempo que passou. Não quero deixar o mundo lá fora, também não quero deixar entrar... a vida não é fácil, vejo agora, mas eu gosto dela. Ainda mais! E as canções são aquele morango vermelhinho em cima, os pedaços de amora tiradas do pé; o pão caseiro amassado pelas minhas mãos trêmulas e até mesmo o prato que queimou por um descuido - não raras vezes provocado por elas, as canções!  Não tem mais os sulcos dos discos, não tem mais os lados pra virar, mas tem as marcas do mesmo jeito. E mais fortes ainda, porque parte delas foi erguida com aquele violão do canto da sala; aquele que sempre que soa faz meu coração bater muito mais forte.  Meus pedaços e de meus amigos, meus amores, rasgados no meio das cobertas e de dias que não voltam, mas nunca saíram de perto, vejo claramente. É só assoprar a poeira. É só colocar o disco pra rodar, grande ou pequeno, e este turbilhão volta como um tornado avassalador em dias de céu azul ou cinzas como hoje. Eu gosto de todos. Eu sinto falta de mim quando ouço algumas canções. E isso me assusta. Mas também me acorda!  

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