Algumas canções tem o
poder de me transportar para mim mesma. A guria perdida no tempo e a que segue
por perto, mas precisa de uns chacoalhões, de vez enquando. Não me peça pra
explicar como ou o porquê . Não saberia dizer, na maioria dos casos. Em outros,
lembro, sinto tudo de novo, tudo o que ela provocou, tudo que ela remexeu, tudo
que ela me fez chorar e rir. Me vejo nas entrelinhas, e até no que não foi
cantado. Acrescento a elas o que sou, também!
E quando ergo o volume pra ouvir, outra vez,
aquela canção que se tornou um pouco de mim, pois carrega alguns pedaços meus,
me sinto renascer, me sinto revivendo. Me sinto viva de um jeito estonteante, hipnótico que me suga as forças e
obriga a parar e sentar um pouco. Tantas vezes me empurram, essas canções, para
uma caneta e um pedaço de papel, me acordam no meio da noite ou mantém meus
olhos abertos .
Algumas delas me fazem lembrar
de mim, do que passou rápido demais, dos meus pedaços deixados pelos cantos,
por vontade, ou por não me dar conta. ou pela pressa! Me reencontro e me perco nas palavras
cantadas e me deixo embalar, enlevada pela conversa que me faz voar alto e
acreditar que não foi em vão se entregar desse jeito. Tenho vontade de abraçar
de novo, ao primeiro sinal do piano e do cielo; e viver, não o mesmo outra vez,
mas o que está por vir com a mesma intensidade, apesar do tempo que passou. Não
quero deixar o mundo lá fora, também não quero deixar entrar... a vida não é
fácil, vejo agora, mas eu gosto dela. Ainda mais! E as canções são aquele
morango vermelhinho em cima, os pedaços de amora tiradas do pé; o pão caseiro
amassado pelas minhas mãos trêmulas e até mesmo o prato que queimou por um
descuido - não raras vezes provocado por elas, as canções! Não tem mais os sulcos dos discos, não tem
mais os lados pra virar, mas tem as marcas do mesmo jeito. E mais fortes ainda,
porque parte delas foi erguida com aquele violão do canto da sala; aquele que
sempre que soa faz meu coração bater muito mais forte. Meus pedaços e de meus amigos, meus amores,
rasgados no meio das cobertas e de dias que não voltam, mas nunca saíram de
perto, vejo claramente. É só assoprar a poeira. É só colocar o disco pra rodar,
grande ou pequeno, e este turbilhão volta como um tornado avassalador em dias
de céu azul ou cinzas como hoje. Eu gosto de todos. Eu sinto falta de mim
quando ouço algumas canções. E isso me assusta. Mas também me acorda!
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