Há dez anos, o OAEOZ lançava “Às vezes
céu”, terceiro disco da banda, formada na época por Ivan Santos (voz, violão,
teclados, gaita), Rodrigo Montanari (baixo), Hamilton de Lócco (bateria),
Carlos Zubek (guitarra) e André Ramiro (guitarra).
O disco foi gravado em oito sessões que
totalizaram 25 horas, no estúdio Nico´s, entre os dias 29 de fevereiro e 10 de
agosto de 2004. Ao todo foram gravadas treze faixas, sendo que doze delas
acabaram no CD – nosso primeiro e único prensado em fábrica. A produção musical foi de Ivan Santos e
Igor Ribeiro (que também ficou responsável pela mixagem). A produção executiva
foi de Adriane Perin. Vinícius Augusto foi o técnico de gravação e Marco MacCoy
(Cores D Flores) o assistente.
Igor também tocou trumpete na faixa
“3h30” – adaptação de um texto do dramaturgo Sam Sheppard. A canção “Dizem” - música minha com letra de Rubens K - contou com vocais de Edith de Camargo (Wandula) e o violoncelo de Samuel
Pessati. O arranjo de cordas foi escrito por Rodrigo Lemos (Poléxia/Lemoskine).
A Patrícia de Souza, mulher do Carlão, fez backing em “Dias tortos”. E o côro
final de “Meia-volta” reuniu além do pessoal da banda, da Adri, e da Patrícia
uma série de amigos – Rubens K, Mariele Loyola, Marco MacCoy, Luciana Raitani,
e Ana Rica Clivati. Esse côro foi gravado na casa do Igor Ribeiro – que fez
também a mixagem – e onde rolaram algumas gravações adicionais.
As gravações do disco têm alguns
detalhes interessantes. Em “Mar dividido”, a Adri e a Patricía “tocaram” duas
“healthy balls” presenteadas a nós pelo casal Thiane e Rafael Martins, da banda
Deus e o Diabo (RS). São bolas de metal usadas pelos chineses pra exercícios de
meditação e que quando movimentadas fazem um som como se fossem de sinos
tocando. Rafael, aliás, escreveu um texto em forma de carta que foi incluído no
press-kit do disco.
Já em “Horizontes”, na introdução a
gente fez uma brincadeira que era simular o início da música como se alguém
entrasse em um carro no meio da chuva e ligasse o rádio. Antes de tocar um
trechinho da música, esse “personagem” passeia pelo dial, e entre outras
coisas, ouve um trecho de uma gravação do escritor Charlie Bukowski lendo um
poema dele.
A foto da capa é uma imagem do Pico
Paraná feita pelo André Ramiro – nosso montanhista honorário.
O show de lançamento
aconteceu no Teatro Paiol, no dia 28 de maio de 2005. E também teve uma série
de participações mais do que especiais. Assim como no disco, a Edith cantou
comigo “Dizem”, que contou com violino e violoncelo e o Igor tocou trumpete em
“3h30”. E o “final apoteótico” com “Lembranças não valem nada” teve Adri, Lu
Raitani e Marcos Linari (La Carne) nos backings. A Lu também cuidou da
iluminação. E o Luigi Castel do som – ele me contou recentemente que foi a
primeira vez que ele fez som no Paiol. Abaixo as incríveis fotos feitas por nossa amiga Iaskara Florenzano.
Enfim, escrevendo isso e lembrando de
todos esses detalhes agora eu percebo como esse disco foi um trabalho coletivo,
um “fotograma” musical de uma época e uma turma de amigos que fez tudo isso
pelo simples prazer de fazer algo que gosta, sem qualquer outra pretensão. E
por mais que isso não tenha importância pra mais ninguém, é muito importante
pra mim, porque é o retrato de um pedaço da minha, e da nossa vida, que ficou
marcado e que está impresso e gravado em “Às vezes céu”.
São músicas que falam sobre sentimentos
de inadequação e desajustamento. Uma certa vertigem de um mundo que gira e te
tira o chão. Um não à idealização do passado – um tempo e um lugar que só
existe na nossa cabeça. Um sim a viver a cada dia o seu dia e o futuro agora.
Uma trilha musical para a autoconsciência. A dúvida como motor para a
descoberta. O desafio de encarar a rotina, “o
esmagamento contínuo dos sonhos”. “No future” - estamos vivos e isso é tudo.
“Não sinto medo”.
Hoje, reunindo todo esse material e escrevendo esse texto, e percebendo quanta gente querida, amiga e talentosa estava envolvida na produção desse disco e desse show, percebo que ele já não é mais meu ou da banda, mas é de todos nós, que estávamos lá. Uma celebração da vida, da música, da generosidade e da amizade. Me sinto muito feliz por ter feito parte disso.
___
Aproveitando essa celebração, a gente
disponibiliza alguns itens inéditos e ou raros ligados ao “Ás vezes céu”.
Abaixo você pode conferir uma música
gravada nas mesmas sessões que acabou não entrando no disco. Ela nem chegou a
ser totalmente finalizada, e nem nome oficial tinha. Apelidei-a de “Você aqui
assim”:
Aqui, a primeira gravação da faixa de
abertura, “Lembranças não valem nada”, em registro feito provavelmente no final
de 2003, no estúdio Tó, de e por Norberto Pie, que nunca chegou a ser lançada
oficialmente:
Aqui, um vídeo feito por Marcelo Borges para a faixa de abertura. Como sempre, ele fez tudo sozinho, lá de Londres, por conta e risco, sem participação da banda. rs
Outra curiosidade que eu só descobri recentemente. "Às vezes céu" virou trilha de cinema. A canção "Vôo baixo" foi usada no filme "Curitiba Zero Grau", como pode ser conferido a partir de 34'46'' no vídeo abaixo:
Esse disco levou o OAEOZ a tocar em São Paulo – dois shows no mesmo dia 5 de abril de 2005, no Centro Cultural de SP e no club OUTS -; Porto Alegre, Londrina, União da Vitória.
Mesmo dez anos depois é difícil pra mim
falar dele com distanciamento. Então prefiro deixar aqui algumas críticas que
saíram na época, e que expressam melhor do eu poderia dizer.
“Às Vezes Céu, dito primeiro álbum do
OAEOZ, é um desses casos raros de belas flores que nascem no asfalto,
aumentando a fé e renovando a esperança em novas flores.”
“Afastada dos modismos, OAEOZ aposta em
canções maduras e verdadeiras”
"Às vezes céu" é a estrada aberta ou o
sinal do trem mudou. (...) Este discocedê é recomendado a quem gosta de
desafios. Sua curiosa sonoridade contida que realça a voz me lembra que o jazz
irrita ao ouvinte menos afeito justamente por costurar linhas tortas e não de
canduras psicodélicas. Se eu sobreviver amanhã, arrumo coragem para ouvir o
disco no escuro. Um fino solo de guitarra me devolve a alegria neste
instante..." - Mário Pacheco – site dopropiobolso
“E é nessas falhas (como a voz oscilante de Ivan
Santos), abertas entre rasgos musicais de almas lavadas e sentimentos
contraditórios, que reside o poder arrebatador desse álbum. Um disco bonito
demais, bonito como sua capa, bonito como os erros de quem acredita em alguma
coisa além de si próprio mas não cai em respostas fanáticas fáceis." - Leonardo
Vinhas – site Gordurama
Se na vida, no dia-a-dia, é bom buscar um caminho
do meio, como nos ensinou Buda, este conselho, definitivamente, não é bom para
a arte, que vive e avança quando se arrisca, quando transgride, enlouquece e
nos mostra, inclusive, as imperfeições. Esse é um prêmio conquistado por OAEOZ
com o sacrifício pessoal de seus integrantes e também de quem os auxiliou nesta
empreitada. Eles fizeram arte fugindo da mediocridade. Se eu fosse Nick Hornby,
já colocaria este trabalho na lista dos melhores discos do ano, independentes
ou não e de qualquer região do planeta - Luiz Claudio Oliveira – site TudoParaná
"A beleza deste trabalho não se limita às
melodias e composições, a parte gráfica feita em dig-pack com uma maravilhosa
foto do pico do Paraná feita por André Ramiro dá o tema: contrastando o tom
escuro das montanhas com o azul do céu e todo o material destinado a divulgação
feito em azul remete à tranqüilidade da alma contrastada com a densidade
montanhosa da vida!" - Wellington Dias – site Gramophone
Aqui, Leonardo Vinhas escreve para o
Scream Yell sobre o show no OUTS:
Leo Vinhas, aliás, jornalista de
Taubaté que conheci primeiro lendo seus textos no Scream Yell e depois nos foi
apresentado pessoalmente pelo parceiro Rubens K foi umas amizades que a gente
acabou fazendo a partir da música. Foi ela que nos aproximou – no que eu sou muito
grato, pois se trata de um cara com grande sensibilidade e talento. Por isso,
não poderia ter pessoa melhor pra escrever sobre os dez anos de “Às vezes céu”,
como você pode conferir no texto abaixo.