O bairro tinha quatro
ruas, todas com nomes de escritores,
mas ninguém por ali,
sabia.
E a placa azul na
esquina ficou pálida sem que os garotos a notassem.
E finca sua estaca na
porta!
Toda manhã ela fazia o
mesmo trajeto: saia de casa por volta das 8h, com um agasalho verde
musgo.
Fizesse frio ou calor,
ela com ele. Sempre. Combinando mais ou
menos com a blusa ou camiseta.
Ela parava na esquina
do ponto de ônibus, pois sempre havia algum conhecido para dizer bom
dia!
Seguia, então, ao
boteco da esquipa para o desjejum: café com leite naquele copo
grande – mais café, que é pra acordar – e um pão d'água, ás
vezes com mortadela, noutras só com a manteiguinha da casa – aquela
que a patroa do boteco colocava na mesa de sua cozinha toda manhã.
Antes, o cheiro da lenha nem
era algo pra ser notado, todo dia estava ali tomando conta de tudo; comum, forte – deixaria marcas que ela nem imaginava.
Nossas verdades e
certezas impediram de conhecer os outros medos e inseguranças. E
assim, seguimos longe, talvez mais do que gostaríamos e admitimos,
daquilo que acreditamos.
E por isso ela não
perdeu tempo pensando muito nisso. Só agora, que o tempo passou e
ela vai sozinha tomar seu café da manhã, sem sentir o cheiro da
lenha queimando no fogão de ferro, é que percebe.
Sentada no cantinho do
balcão é a única mulher no lugar. Observa, tentando disfarçar, os
movimentos. Martelinhos na mão, eles começam seu dia. E o
deixam passar assim, sem uma razão aparente, só esperando que tudo
escape entre os dedos e a lua anuncie que é hora de voltar para
aquele silêncio. Não é um silêncio ruim. É só o silêncio de
quem não quer dizer mais nada. De quem sente que não tem nada para
dizer.
Na volta, com seus
passos sem pressa, olha outra vez praquela velha placa azul com o
nome do bairro e da rua. O número é mesmo. As pessoas não.
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