Sil saiu caminhando na
chuva em direção ao portão. Não havia mais nada a dizer portanto
também não havia o que fazer naquela hora. Era melhor mesmo
caminhar um pouco e deixar a chuvinha fina que ameaçava engrossar
bagunçar as luzes fracas que iluminam o parque. Guardou o óculos
no bolso, acendeu um cigarro e tentou puxar o gorro o suficiente pra
formar uma aba de proteção. A imagem dele falando coisas que ela
não entendia sobre coisas que não aconteceram, como se mesmo
vivendo na mesma casa há 10 anos tivessem estado em terras
distantes, confundia tudo que acontecera nos últimos 60 minutos.
Sil nem sentiu quando
uma pessoa passou a seu lado apressada esbarrando na bolsa com seu
computador, única coisa que pegara ao sair de casa correndo. Ao ver
a máquina se espatifar no chão algo aconteceu e foi como se o mundo
tivesse vindo abaixo, num dilúvio de frustração desencadeado por
um estalo inesperado!
Largada na calçada
deixou o corpo arcar e soluçou, tanto, que se sentiu sem forças até
pra levantar. Então, ficou ali. Sozinha no escuro, a chuva colando a
roupa no corpo; sentindo a voz e até mesmo os soluços sumirem
enquanto a enxurrada deixava só aquele frio gelado.
Do mesmo jeito que
veio, a tempestade foi embora. E ela recomeçou os passos de
onde parou. Meia volta lenta observando a água correr pelos cantos
da rua de paralelepípedo, marrom, grossa... naquela água suja da
chuva formando minúsculas ondas deixou correr junto toda aquela
confusão de pensamentos e simplesmente seguiu até o fim da rua.
Sil estava sem um pingo de vontade de existir, naquele resto de
noite.
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