4/18/2018

sobre não parar



Tento pensado sobre essa incapacidade de parar! A mente, o corpo e o ser. Hoje fui para Yoga, outra etapa nessa busca. Nela, que é bem recente na minha vida, tenho tentado esquecer o tempo, sair de fora de mim e encontrar o centro do corpo, o ponto em que consigo manter o equilíbrio, físico. É quando, claramente, me sinto mais perto de algo que vislumbro ser o que identifico como serenidade. Noto sinais aqui e acolá, são pistas mesmo. Nas biografias que leio – como a mais recente, do impressionante monge Leonard Cohen, que me fez chorar tão profundamente que até me assustei -; no quintal e até no incenso de determinado orixá que escolhi pela primeira vez sem saber porquê. Ou nas palavras que pedem que atentemos para o coração - e não na respiração, como sempre fiz. 
Alta e fina!
Talvez não tão alta assim.
Olho ela mesmo sem estar a sua frente.
Olho ela, intrigada.
Corpo esguio
Pequena.
Parece mais alta do que é.
É a postura! Ereta no centro do corpo
Linha central sempre impecável!
Não tem modos ou vestígios de bailarina. Seus movimentos são outros, deixa escapar ...
aqui e ali
nisgas de uma certa impaciência mal disfarçada.
Rio, ao pensar nisso.
Tem algo nela que me faz querer saber mais.
É seu corpo.
É seu corpo?
“Ouça o coração”. Procure o coração.
Sinta o coração flutuar boiando no primeiro pedaço de uma possível existência
E no último pulsar do que se realizou, enfim!
Ela se movimenta, pouco, pela sala.
Fala baixo, mesmo quando escapa de si.
Te fiz meu objeto de observação (apreciação)
por pura inquietude,
não mais que isso.
Pela pura curiosidade de desvendar-me em outras filosofias vagas, talvez.

Me sinto tateanto.  Às vezes, como ontem, em alguns momentos acho que está tudo perdido mesmo, que é meu jeito não conseguir parar e que tenho que continuar convivendo com essa mente barulhenta. Noutras, uma pequena surpresa, tão inesperada quanto desejada, se dá e posso, por exemplo, de pernas pro ar, sentir uma plenitude, o vislumbre da tranquilidade que sabe (e o traduz por segundos) onde está o tal ponto de equilíbrio/centro do corpo, compreensão tão mais importante pra nós agora, me parece. Foi efêmero.  É efêmero. E se basta em sua efemeridade.  Pois é o suficiente para passar por mais um dia, alguns instantes sem pensar em alguma lista de coisas para fazer (elas sempre estarão lá, afinal, não importa o quanto eu faça!!)
Até os passarinhos estão quietos
É como se o dia continuasse a dormir
Enquanto me explico,
replico
explico
revolta em um mar de eus
que se debatem
nessa escuridão gelatinosa de placenta
pedaços de ‘mins’
massacrados por quereres
por quereres...
e eu explico
me replico
quanto menos me reconheço a braçadas largas
cuspo e me vomito
em uma desintoxicação de mim mesma.
Escorrego pra baixo da coberta e me encolho.
Nada existe, neste momento.
O nada existe,
(e) o ser em nada resiste.

Me sinto tateando em meio a ilusões de certezas. E lembro até da fábula da  Sapatinhos   Vermelhos e da garotinha tão deslumbrada, tão  ávida por não perder nada que acaba... se perdendo. Na primeira vez que li, senhora Clarissa, achei cruel, malvado mesmo. Estava tentando reconstruir-me dos ossos, cantando. Rsrs. Eu não sabia disso. Uma parte de mim desconfiava disso, sem saber. Tantas foram as vezes em que minhas antenas me desvirtuaram para fora de mim... quantas vezes ainda o farão...
Sim, me sinto tateando, portanto. Rouca e quase sem voz.
Abro um caderno velho e encontro a sua letra
Em palavras garrafais ela me diz que tudo acabou
Depois, mais calma, me conta alguns segredos esmagados
e que foram esquecidos
Mexo e remexo o pé nervoso e fecho os olhos para lembrar
Mas tudo que consigo é não notar que o tempo nos levou para voos de Ícaro
Sempre é possível voltar.
Querer é que é a razão.



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