7/15/2015

No estúdio com Stilnovisti




Em novembro, eles ocupam o palco do Teatro Paiol para momentos, por certo, especiais: o lançamento do primeiro álbum da banda Stilnovisti. Até lá, a rotina é de criação, entre estudos de possibilidades musicais, ensaios, na Casa do Rock, e de gravação, no Gramophone.  Daqui a 4 meses será a hora de mostrar o resultado de um árduo trabalho e dedicação, no projeto batizado de Stilnovisti: Canção Com Palavras.

Eles são:
Martinuci - voz, piano, guitarra
Luís Bourscheidt -  bateria, percussão e voz
Jorge Falcon - guitarra, violão, voz
Fábio Abu-Jamra - guitarra, violão, voz
Gustavo Slomp - baixo acústico e elétrico.

Projeto de Martinuci, poucos ensaios bastaram para que ele, Bourscheidt, Falcon, Abu-Jamra e Slomp, e convidados, afinassem o repertório, sob os ouvidos atentos de Jorge, que faz as vezes de maestro – missão dividida com todos, na verdade, já que as trocas de ideias são constantes. Martinuci, notei, fica mais calado ouvindo o que os outros sugerem, às voltas, muitas vezes, com a tecnologia, fios, teclas, cabos. Entretanto, levam a assinatura dele as partituras com as melodias e as harmonias. Houve também um pequeno período de pré-produção, compartilhada com Jorge Falcon, com foco nas composições mais recentes de Martinuci. E se poucos ensaios foram suficientes, é porque dos cinco músicos, quatro deles já estão trabalhando no projeto desde 2011, tempo suficiente para ver que a química está funcionando. E o baixista Gustavo Slomp também já tocou com o Stilnovisti, portanto também já conhece boa parte do repertório que será gravado. No dia 7 de julho, o quinteto fez o último ensaio geral, antes das decisivas horas de estúdio do projeto, que conta com o apoio do Mecenato da Prefeitura Municipal de Curitiba e patrocínio do Banco do Brasil e Volvo.


É sempre interessante observar este processo de perto. Algumas canções são conhecidas e ganham agora um novo registro sonoro, na busca incessante por gravações definitivas (se é que elas existem, diriam alguns, inclusive eu!) desta safra de canções nascidas com Martinuci ao longo dos últimos 15 anos.


 “Canções que não foram gravadas anteriormente, ou seja, inéditas. Algumas já foram apresentadas ao vivo, mas quatro foram compostas recentemente: Sweet Flower, O Que Nem Sei (milonga), Cem Dias de Espera e Mikrokosmos. Duas canções tiveram profundas alterações: Zumzumzum e Os Rios. Duas canções são poemas de Paulo Leminski - Um Deus Também é o Vento e Zumzumzum; uma outra, Francesinha, era uma valsa para piano que ganhou letra da poetisa paranaense Neuzza Pinheiro (parceira de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Grupo Fato, entre outros).”
Muito curiosa para ouvir esta nova versão, já que a anterior, como vocês podem ver no link acima,é muito linda!

Embora o projeto Stilnovisti tenha nascido da  iniciativa individual de Martinuci, ao longo dessa caminhada ele foi agregando parceiros musicais. Ao todo, serão cerca de 35 músicos envolvidos diretamente, numa soma total de 50 pessoas, que inclui produtores e técnicos.

“Participações especiais: André Deschamps (sax soprano) - Guilherme Romanelli (volino) - Cristiane Serkes (soprano lírica) - Madrigal da UFPR e Maestro Alvaro Nadolny. (haverá ainda um músico argentino que vai gravar um bandoneon, mas  não sei o nome dele...). O quarteto de cordas será formado por músicos da Camerata Antiqua de Curitiba e Guilherme Romanelli.”




Sete caras e seus instrumentos num espaço de poucos metros quadrados. Paredes cobertas de cartazes, guitarras, cases e outros detalhes que contam histórias recentes e mais antigas. É a Casa do Rock, estúdio simpático na vizinhança do Largo da Ordem, numa terça-feira chuvosa; 10 da matina. Metade dos músicos já aguardava a abertura da portão quando cheguei. Logo, todos estão a postos e o café na padoca fica pra outro dia.  O clima é bem tranquilo entre o quinteto que já se conhece de longa data. O primeiro convidado do dia, André Deschamps, com seu sax soprano, já está a postos também.

Falcon chega um pouco depois para dar seus pitacos, poucos, na real. A verdade é que eles já estão com tudo encaminhado pra iniciar a gravação no dia seguinte.  Enquanto eles se viram com a arrumação dos instrumentos, fico observando, escolhendo melhor lugar pras fotos, testando possibilidades de gravação de um áudio para ilustrar. Não conheço a acústica do lugar, vamos ver como fica. Pescando palavras no ar e tentando não atrapalhar. 

Conseguir fotografar todos juntos é sempre um grande problemas em estúdio, o batera tá sempre lá num canto, separado... rsrsrs. Salve a estratégica escada da Casa do Rock.  

Depois de tudo montado, instrumentos ligados, acertos e mudanças de tom acontecem entre conversas de sustenidos, busca de afinações e belas melodias para acordar um dia que segue indeciso lá fora. Ali dentro o tempo passa em ritmo diferente. 

 Instantes ímpares pra mim, estes em que consigo esquecer o mundo lá fora... e quase só acontecem com música e livros.

O movimento dos dedos em cordas de diferentes ‘calibres’, o acariciar das baquetas em seus pratos cor de um sol que não se vê lá fora; o deslizar pelas teclas brancas e pretas... vendo assim, até parece que tudo é só encanto na magia de “ver” uma canção ganhando corpo.

  Nada, é uma trabalheira danada e se não tomar cuidado não sai do estúdio de ensaio, porque estes caras estão sempre querendo algo a mais que está logo ali na frente, embora nem eles saibam bem o que é. Me parece.

Mas, tem-se a impressão de que tudo é tão corriqueiro para eles, neste longo percurso de uma canção até chegar ao seu destino: o público.

É o ‘trabalho’ dos caras – e eles o fazem com a tranquilidade de quem domina seu ofício, mas quer mais. Para mim, definitivamente, é encantador observar do meu canto os movimentos de cada um nessa busca por “outras cores” para a música. A procura pela faceta musical de cada um que converse com aquela canção do Stilnovisti.


Afinal, qual é o caminho para escapar das armadilhas que levam para os lugares mais comuns senão essa (pequena) profusão de acordos e desacordos amenos, essa inquietação que leva a outra pergunta, que conduz ao experimento de outra nota, e que assim vai tecendo um borbado musical na vontade de tocar alguém que o escuta.

Cada um tem seu jeito de desvendar (ou ao menos tentar) o grande mistério de manter uma banda. Mas o que é esse poderoso mistério senão encontrar aquele espaço, a intersecção que passa por todos, naquela canção?

Nesta busca, às vezes o som ‘gordo’ do baixo acústico fica melhor; noutras, o contrabaixo elétrico é quem dá o tom. É o conjunto da obra se erguendo diante dos meus olhos.  E pequenas pérolas que ficam por alí,  na Casa do Rock, no Gramophone,  marcando ainda mais suas paredes com mais melodias, musas invisíveis a inspirar (e inspiradas) até (em) quem não tem ideia.

Entre o quebrar  de andamentos, o não dobrar de viradas, tudo e mais é possível, agora.  Mas, é preciso foco – afinal não é todo o tempo do mundo que se tem agora.

E a gente vai vendo/ouvindo altas horas passarem sem sentir, todos mergulhados nos sons, todos prontos para ouvir e criar, juntos. Descalços, de certa forma, tateando sons em certa medida para encontrar os “nossos” neste momento; para encontrar os instantes musicais que ninguém espera!

Stilnovisti, por ora, encontrou os seus. Ou, os seus, por ora, os encontraram. Outros virão e é possível ainda que no palco do Paiol, em novembro, outros sons já tenham brotado, depois de tudo pronto e gravado.  Essa é a magia de acompanhar uma banda. Tudo pode acontecer, mesmo depois que vc acha que já tá tudo pronto. E será então, outro momento único, o que veremos e viveremos entre as paredes do Paiol da música. Porque a música é viva, apurada nesta constante inquietação tentando dizer o que nós, pobres humanos, às vezes nem sabemos. Ela cutucando dentro da gente para no final deixar a vista um pouco do que são e fazem estes caras iluminados pelo colorido das luzes do palco e pelos sons que estão por aí, prontos para serem abraçados.  
















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