Em novembro, eles ocupam o palco
do Teatro Paiol para momentos, por certo, especiais: o lançamento do primeiro
álbum da banda Stilnovisti. Até lá, a rotina é de criação, entre estudos de
possibilidades musicais, ensaios, na Casa do Rock, e de gravação, no Gramophone.
Daqui a 4 meses será a hora de mostrar o
resultado de um árduo trabalho e dedicação, no projeto batizado de Stilnovisti: Canção Com Palavras.
Eles são:
Martinuci - voz, piano, guitarra
Luís Bourscheidt - bateria, percussão e voz
Jorge Falcon - guitarra, violão, voz
Fábio Abu-Jamra - guitarra, violão, voz
Gustavo Slomp - baixo acústico e elétrico.
Projeto de Martinuci, poucos ensaios bastaram para que ele, Bourscheidt, Falcon, Abu-Jamra e Slomp, e convidados, afinassem o repertório, sob os ouvidos atentos de Jorge, que faz as vezes de maestro – missão dividida com todos, na verdade, já que as trocas de ideias são constantes. Martinuci, notei, fica mais calado ouvindo o que os outros sugerem, às voltas, muitas vezes, com a tecnologia, fios, teclas, cabos. Entretanto, levam a assinatura dele as partituras com as melodias e as harmonias. Houve também um pequeno período de pré-produção, compartilhada com Jorge Falcon, com foco nas composições mais recentes de Martinuci. E se poucos ensaios foram suficientes, é porque dos cinco músicos, quatro deles já estão trabalhando no projeto desde 2011, tempo suficiente para ver que a química está funcionando. E o baixista Gustavo Slomp também já tocou com o Stilnovisti, portanto também já conhece boa parte do repertório que será gravado. No dia 7 de julho, o quinteto fez
o último ensaio geral, antes das decisivas horas de estúdio do projeto, que
conta com o apoio do Mecenato da Prefeitura Municipal de Curitiba e patrocínio
do Banco do Brasil e Volvo.
É sempre interessante observar
este processo de perto. Algumas canções são conhecidas e ganham agora um novo registro
sonoro, na busca incessante por gravações definitivas (se é que elas existem,
diriam alguns, inclusive eu!) desta safra de canções nascidas com Martinuci ao longo dos
últimos 15 anos.
“Canções que não foram gravadas
anteriormente, ou seja, inéditas. Algumas já foram apresentadas ao vivo, mas quatro
foram compostas recentemente: Sweet Flower, O Que Nem Sei (milonga), Cem Dias
de Espera e Mikrokosmos. Duas canções tiveram profundas alterações: Zumzumzum e
Os Rios. Duas canções são poemas de Paulo Leminski - Um Deus Também é o Vento e
Zumzumzum; uma outra, Francesinha, era uma valsa para piano que ganhou letra da
poetisa paranaense Neuzza Pinheiro (parceira de Arrigo Barnabé, Itamar
Assumpção e Grupo Fato, entre outros).”
Muito curiosa para ouvir esta nova versão, já que a anterior, como vocês
podem ver no link acima,é muito linda!
Embora o
projeto Stilnovisti tenha nascido da
iniciativa individual de Martinuci, ao longo dessa caminhada ele foi
agregando parceiros musicais. Ao todo, serão cerca de 35 músicos envolvidos diretamente, numa soma total de 50 pessoas, que inclui produtores e técnicos.
“Participações especiais: André Deschamps (sax soprano) - Guilherme
Romanelli (volino) - Cristiane Serkes (soprano lírica) - Madrigal da UFPR e
Maestro Alvaro Nadolny. (haverá ainda um músico argentino que vai gravar um
bandoneon, mas não sei o nome dele...). O quarteto de cordas será formado
por músicos da Camerata Antiqua de Curitiba e Guilherme Romanelli.”
Sete caras e seus instrumentos
num espaço de poucos metros quadrados. Paredes cobertas de cartazes, guitarras,
cases e outros detalhes que contam histórias recentes e mais antigas. É a Casa
do Rock, estúdio simpático na vizinhança do Largo da Ordem, numa terça-feira chuvosa;
10 da matina. Metade dos músicos já aguardava a abertura da portão quando
cheguei. Logo, todos estão a postos e o café na padoca fica pra outro dia. O clima é bem tranquilo entre o quinteto que
já se conhece de longa data. O primeiro convidado do dia, André Deschamps, com seu sax soprano, já está a postos também.
Falcon chega um pouco depois para
dar seus pitacos, poucos, na real. A verdade é que eles já estão com tudo
encaminhado pra iniciar a gravação no dia seguinte.
Enquanto eles se viram com a arrumação dos instrumentos, fico
observando, escolhendo melhor lugar pras fotos, testando possibilidades de
gravação de um áudio para ilustrar. Não conheço a acústica do lugar, vamos ver
como fica. Pescando palavras no ar e tentando não atrapalhar.
Conseguir fotografar todos juntos é sempre
um grande problemas em estúdio, o batera tá sempre lá num canto, separado...
rsrsrs. Salve a estratégica escada da Casa do Rock.
Depois de tudo montado,
instrumentos ligados, acertos e mudanças de tom acontecem entre conversas de
sustenidos, busca de afinações e belas melodias para acordar um dia que segue
indeciso lá fora. Ali dentro o tempo passa em ritmo diferente.
Instantes ímpares pra mim, estes em que
consigo esquecer o mundo lá fora... e quase só acontecem com música e livros.
O movimento dos dedos em cordas
de diferentes ‘calibres’, o acariciar das baquetas em seus pratos cor de um sol
que não se vê lá fora; o deslizar pelas teclas brancas e pretas... vendo assim,
até parece que tudo é só encanto na magia de “ver” uma canção ganhando corpo.
Nada, é uma trabalheira danada e se não
tomar cuidado não sai do estúdio de ensaio, porque estes caras estão sempre
querendo algo a mais que está logo ali na frente, embora nem eles saibam bem o
que é. Me parece.
Mas, tem-se a impressão de que tudo é tão corriqueiro para eles, neste longo percurso de uma canção até chegar ao seu destino: o público.
É o ‘trabalho’ dos caras – e eles o
fazem com a tranquilidade de quem domina seu ofício, mas quer mais. Para mim, definitivamente, é encantador
observar do meu canto os movimentos de cada um nessa busca por “outras cores”
para a música. A procura pela faceta musical de cada um que converse com aquela
canção do Stilnovisti.
Afinal, qual é o caminho para
escapar das armadilhas que levam para os lugares mais comuns senão essa (pequena)
profusão de acordos e desacordos amenos, essa inquietação que leva a outra pergunta, que conduz ao experimento de outra
nota, e que assim vai tecendo um borbado musical na vontade
de tocar alguém que o escuta.
Cada um tem seu jeito de desvendar (ou ao menos tentar) o grande mistério de manter
uma banda. Mas o que é esse poderoso mistério senão encontrar aquele espaço, a
intersecção que passa por todos, naquela canção?
Nesta busca, às vezes o som
‘gordo’ do baixo acústico fica melhor; noutras, o contrabaixo elétrico é quem
dá o tom. É o conjunto da obra se erguendo diante dos meus olhos. E pequenas pérolas que ficam por alí, na Casa do Rock, no Gramophone, marcando ainda mais suas paredes com mais melodias,
musas invisíveis a inspirar (e inspiradas) até (em) quem não tem ideia.
Entre o quebrar de andamentos, o não dobrar de viradas, tudo e mais é possível, agora.
Mas, é preciso foco – afinal não é todo o tempo do mundo que se tem
agora.
E a gente vai vendo/ouvindo altas
horas passarem sem sentir, todos mergulhados nos sons, todos prontos para ouvir
e criar, juntos. Descalços, de certa forma, tateando sons em certa medida para encontrar
os “nossos” neste momento; para encontrar os instantes musicais que ninguém
espera!
Stilnovisti, por ora, encontrou
os seus. Ou, os seus, por ora, os encontraram. Outros virão e é possível ainda
que no palco do Paiol, em novembro, outros sons já tenham brotado, depois de
tudo pronto e gravado. Essa é a magia de
acompanhar uma banda. Tudo pode acontecer, mesmo depois que vc acha que já tá
tudo pronto. E será então, outro momento único, o que veremos e viveremos entre
as paredes do Paiol da música. Porque a música é viva, apurada nesta constante
inquietação tentando dizer o que nós, pobres humanos, às vezes nem sabemos. Ela cutucando dentro da gente para no final deixar a vista um
pouco do que são e fazem estes caras iluminados pelo colorido das luzes do palco e pelos sons que estão por aí, prontos para serem abraçados.
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