ah, vou comer um
sanduíche de mortadela, ainda tô com fome. Um chocolate quente, um
filminho bobo que já vi, na tevê, e assim essa terça com cara de
domingo vai passando, quente no sol, sob o céu azul, mas fria na
sombra, sob o mesmo céu azul. Minha cidade é assim, ela resiste ao
calor. Gosto dela assim. Saio a caminhar, tem parques lindos,
ouvindo música ou o som das ruas, conversas de ônibus divididas com
todo mundo.
Ou fico em casa.
Sentada na frente da
televisão, sozinha em casa, laptop nas pernas, prometo a mim mesma,
outra vez. Cada dia, um.
Volto e o cachorro que
mora no ponto de ônibus se aproxima, de canto de olho, até parece
que quer sentar ao me lado. Mas, claro que ele não quer. Embora me
conheça pouco, sabe que tenho um cachorro também, que ao menor
sinal de aproximação começa a latir enfurecidamente. O cachorro
magro sabe que no fundo meu cachorro não faria nada, mas respeita o
território, não tá interessado em mais problema além dos que já
tem.
Então, ele só aproveita quietinho, acho que na esperança de
que sobre algo pra ele.
Ele tem pêlos pretos,
brilhantes.
No início eu achava
que ele vinha acompanhar o dono no ponto de ônibus e ficava
esperando. Ele vinha no portão, andava um pouco atrás de mim, ou de
outra pessoa; se recebesse o mínimo sinal de aprovação,
continuava. Uma expressão tranquila e um olhar fundo quase me fazendo congelar, às vezes. Eu entrava no ônibus e sentia
ainda por instantes que ele me procurava – do mesmo jeito as vezes
que nos encontramos na volta, ele ia até a beira da calçada, me
olhava atravessar a rua, no portão eu dava virava pruma olhadinha e lá tava
ele, como que esperando um mínimo sinal de convite pra seguir em
frente.
Tenho que tomar cuidado, porque me entrego logo a estes
olhares sedutora e docemente levianos, pedintes. Me entrego à carência dos outros, sem
modos, esparramada e desajeitada.
Mas, meu amigo canino não sabe
nada disso. Nem o quanto me bato, me escondo e me arregaço em
palavras que jamais encontro.
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