Acordei pensando na vida. Fui ouvir no susi. Há tempos não pegava esse cedezinho inacabado pra ouvir. E constato que, por alguma razão, algo soa diferente. Não sei explicar, direito. Vejo a essência que curti desde o começo ali, mas tem algo mais. Acho que o distanciamento do tempo clareia as sensações tratadas ali e deixa as tonalidades menos sombrias. Talvez hoje possamos ver esses temas de um jeito menos pacional. Mas, a pureza, cruel até, porém necessária, das primeiras canções, continuam vísiveis. pulsam diante de um espelho que deixa os dias ainda mais claros, agora. Mágoas guardadas, machucados lambidos e prestes a secar, quem sabe, talvez possamos ouvir esse canto fazendo rasgos menos profundos na pele. Há alguns meses ouvir esses projetos de canções era muito difícil. tanta saudade que parecia sem sentido.
No susi foi como uma daquelas tempestades que derrubam árvores sobres as casas, arrastam enganos e acertos que já deviam ter morrido e fazem boiar aquele punhado de sentimentos que a gente tentou esconder...
até consigo rir... Ainda tenho vontade de cantarolar... lembro instantes com uma sensação de quem passou por um turbilhão, mas não sinto aquela dor estranha. Já não sinto mais a mesma tristeza por ter perdido algo muito precioso... não sinto mais aquela descontrole de algo que me foi arrancado antes da hora... o que será isso? Porque será isso? Quando pego o violão me alugando com alguma melodia, só pelo prazer de me sentir entretida por algo bom, sem sequer pensar muito, sei que meus dias ficam melhores..... como será agora?
Sábado, ao abrir a porta da cozinha me deparei com um árvore imensa a meus pés.
Linda, tão poderosa na noite anterior, sob uma brilhante lua cheia que acolheu e iluminou a mim e a meu amor, e agora ali tombada, raízes a vista, deixando todo um céu azul, com poucas nuvens se abrindo sobre minha cabeça. Chorei, sim. Me senti culpada vendo seus galhos carregados de frutas condenadas... espalhadas pelo chão. Ele não machucou ninguém. Caiu a noite, depois de dividir com a gente deliciosos momentos, sem barulho, sem alarde...
depois, sozinha, quintal limpo, flores num canto, terra molhada pronta pra minha horta, veio o silêncio. Sentada no canto, fugindo do sol a pino, mas sentindo seu calor arder nos meus olhos e pele, perto das flores, sob a terra úmida, sozinha em casa, tantos pensamentos sobre a vida daquela árvore linda que ainda ontem nos acolhia numa sombra confortável e agora deixava o espaço aberto pra algo ser começado, outra vez.
Claro, que vou plantar outra árvore que possa nos dar novamente a doce acolhida de sua sombra. Mas a tristeza de ver aquele abacateiro, de folhas largas, tão belo, aos meus pés, vai caminhar comigo mais um pouco. um vazio, uma silêncio forçado pela falta do que dizer....
É melhor entender como um tempo que se abre.
Do abacateiro foi seu tempo, agora é chegado o nosso, nesse lugar. Nesse outro tempo que também vai trazer suas surpresas. Por alguma razão, nesse ano que começa me dando muita vontade de fazer coisas que gosto, me agarro a esse abacateiro caído e sua imagem imponente da noite anterior como o (re) começo e de um fim que vai chegar de novo, uma hora ou outra, O a e o Z, no susi degustando o inverno e o verão em um quintal que não se esconde mais da ardência desses dias que merecem o sol queimando os olhos, mas que também sabe dar um abraço orvalhado.... acordei pensando na vida... (adri)
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5 comentários:
é. é tempo de plantar novas árvores e colher outros frutos. bjs
Sempre emocionando, Adri. E olha só, consegui comentar aqui. uhu
yeah!
PENSAR NA VIDA...TENHO EVITADO. BJOS E ABRAÇOS.
porra, ducaralho mesmo esse texto. relendo agora com calma, fiquei de cara (quase ehehe). nós, fieis tres leitores do blog de inverno, exigimos mais!!
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